Foram 12 horas de sono, 40 minutos para se espreguiçar, 20 minutos para levantar. Começou abrindo os olhos devagarzinho, aquela sensação de turvação incomoda muito; os braços vão se transformando em asas bagunçando a cama, as pernas parecem grandes alicates revirando os travesseiros e encontrando novas posições. Tem coisa melhor do que espreguiçar? É tudo uma questão de tempo para que enfim, a vontade de fazer xixi tome conta do corpo e impeça a preguiça de reinar. Corre até o banheiro e já escova os dentes, toma banho, penteia os cabelos e volta do banheiro cor de rosa com cheiro de pitanga. O tempo passa devagar e ela querendo saber dele, mas não acha maneira e nem sentido de sabê-lo. O calor do dia invade o quarto e seu corpo esquenta, ferve o que já existia de calor, e desce correndo as escadas procurando salvar-se... Veste o biquíni, lava roupa, beija o cão, cozinha alguma coisa que tem a ver com massa e chove, finalmente chove e venta e ela se sente livre. Volta para a cama e tapa os olhos para afugentar o pensamento nele. De repente não sente mais nada, não o vê e segue conectada ao mundo em sua volta e escreve e despista. Recebe ligações, conversa e faz planos para a noite. A tarde cai e ela se prepara. Toma outro banho fica de novo da Cor da rosa e cheiro de pitanga e veste-se do colorido mais bonito e já quando não há mais nada por esperar ele aparece, e mais que a roupa, tudo colore-se e segue o caminho sozinha, mas feliz, completa de se saber quista e desejada. Na volta os olhos pesam do sonho que ela ainda vai ter com ele.
Num primeiro momento, sem alguma intimidade – tímida; num segundo, vai se despindo de todos os pudores devagar e compassadamente... E num terceiro, se esvai tudo e fica apenas a embalagem aberta jorrando as cores do arco – íris que as crianças descem alegres; suco de laranja de manhãzinha com espuma e gominho; primeiros beijos; beijos afoitos; surpresas à Lá “Marcus André”; olhares da primeira vez; friozinho na barriga; mil sorrisos... Tantos desejos entornados em dois corpos recipientes.
Eu quero um sentimento de esperança que me pareça real e que não se dissipe em meias verdades ou meias palavras, algo verdadeiro e que eu não precise fugir do que eu quero. Chega dessa corrida de gata e rato, de sexos opostos, de marte e Vênus, amor e sexo. Desejo apenas que o meu querer seja força e coragem; segurança e desinibição. Que eu não seja a ‘polaca’, mas também não a ‘santa’. Quero ser as duas e não quero críticas nem julgamentos. Quero ter um filho, ser mulher de alguém, companheira, rabo de saia, mas não quero ser só a santa. Não quero desacreditar no meu desejo porque ele existe e é real, nem fazer dele minha vergonha. Sim, eu quero ser sua, mesmo se for só por algum ou muito tempo, mas o queiramos, porque se não o quisermos, que ele alcance outros braços, outros corpos que lhe caibam direitinho. Mas ele está aqui e não posso ignorá-lo. O pudor extinguiu-se, a vergonha deu uma saída sem ter hora para voltar... Ele agora é bicho que habita em mim e pulsa por ti. Quer mais sentimento que isso?
Eu vou escrever uma música Que combine com aquela tua dança Com aquela tua fala A mesma que inunda o som da nossa infância sua cabeça coberta de flores meu ombro coberto com as tuas flores & então você, ‘Marcus André’ Aparece pra mim de surpresa E adormece no meu coração Na rede carmim que nos embala Não desperta o sonho que nos une o mantém aceso sob as luzes da grande cidade irradiando satisfação a cama feita & desfeita & o meu retrato à cabeceira o vento do mar sobrevoando o nosso sexo confundindo-se ao nosso corpo & às cordas do teu coração que ironia a sua! Minha marca, meu selo, meu Não acorda agora Não acorda do sonho, deixa ele dormir a praia orna os teus braços & o mar é o ator principal do nosso filme mas você é o sol e anda sob um elefante que dança em Beirute quando nu você é verde e eu canto Nina Simone, mesmo sem saber a letra & meu inglês é pobre & então tomemos banho Livres Mas não acorda Ama assim mesmo Ou no banco traseiro de um Cadillac Ou em Marte Ou nos Arcos da Lapa Num bonde desgovernado Indo em direção a algum Paraíso Perdido Você me pergunta se há vida na minha Tatuagem de sereia que devora Meu tornozelo. Não. Mas existe muita vida em mim. Quer provar?
Na minha Ilha eu chego ferindo suas águas salgadas e piso na superfície de areia úmida de mar. Da beira, caminho com o objetivo de alcançar a morada, acomodar-me e começar uma nova existência. Tudo é simples aos meus olhos. Tudo eu quero e está ao alcande da mão. Eu quero encontrar gente querida, violar as águas desse mar, esperar um amor (talvez Iemanjá me ajude nisso!) com gosto de chuva e de bagaço de fruta. Lá na minha Ilha, cada amanhecer é uma nova geografia, uma nova perspectiva e não canso de buscá-la e estou ávida por vivê-la... E agora, minha pele já é dourada; meus cabelos coloridos; meus pés calejados; meu coração apaixonado e minha mente confusa.
Hoje o dia está claro, mas como estará no Rio? Sempre deixo meus pedaços por lá, sejam amigos, família, pessoas importantes. Pessoas interessantes e importantes que vêm e vão, e passam, e se instalam em minha vida. Hoje minha cabeça está no Rio, mas meu coração sempre esteve, desde a infância, infância peregrina que tive em desbravar cada pedaço e decodificar cada cheiro e cada tom de azul. Como está o Rio hoje? Será que sente saudade? Será que olha por cima de seus morros e sorri? Será que joga um pedaço de azul dos seus mares para o mar que é a minha existência, querendo ser tão bravia e imensa? O sorriso do Rio é de um branco poderoso. Um sorriso maroto. Um olhar malandro de se saber querido. Esse é o Rio. Quem me dera pudesse dizer um dia que esse é o meu Rio. Meu Rio de águas verdes – azuis – celestes; meu de temperamento forte, de humor audacioso, de gingado acentuado, e por que não de grandes e indefinidos contrastes, mistérios, malícias e defeitos? Todo meu em verso e prosa e em mãos, e à mão para que eu possa matar a saudade boa de beijar na boca e de olhar para a imensidão. Me bagunço toda nesse Rio e como me permito! Como me sinto forte e bem vinda naqueles braços que me envolvem e me recebem contra o peito em posições acrobáticas, mas extremamente carinhosas. Acabou meu tempo, mas o tempo volta e gira, e muda as coisas de lugar, e me trás de volta, e me puxa pra perto.
If I was young, I'd flee this town I'd bury my dreams underground As did I, we drink to die, we drink tonight Far from home, elephant gun Let's take them down one by one We'll lay it down, it's not been found, it's not around Let the seasons begin - it rolls right on Let the seasons begin - take the big king down Let the seasons begin - it rolls right on Let the seasons begin - take the big king down And it rips through the silence of our camp at night And it rips through the night And it rips through the silence of our camp at night And it rips through the silence, all that is left is all that i hide
Se eu fosse jovem, eu fugiria desta cidade Enterraria meus sonhos no subsolo Como eu, nós bebemos para morrer, nós bebemos essa noite Longe de casa, elephant gun* Vamos derrubá-los um a um Nós os deitaremos, eles não foram encontrados, não estão por aqui Que comecem as estações - elas rolam como devem Que comecem as estações - derrube o grande rei E rasgam o silêncio do nosso acampamento à noite E rasgam a noite E rasgam o silêncio do nosso acampamento à noite E rasgam o silêncio, tudo que é deixado é o que eu escondo
Alguém comeu as palavras que ía escrever aqui. Era alguma coisa importante, algo que manifesta a minha alma perturbada, frenética. Talvez eu esteja naquela idade, comum às mulheres, não só de se auto - afirmar, mas de querer ser mais do que o próprio destino nos impõe. Saber o que quer, o que gosta e só. Ser. Eu gosto de ser mulher, meio moleca, meio pudica, meio devassa. Gosto do simples. Gosto da voz que faço quando canto uma canção pra ele. Gosto dos meus badulaques, das minhas palavras que se assemelham a isto. Gosto do sorriso grande de canto com covinha. Gosto da noite e do dia. Gosto do cheiro do mato e do barulho de cri-cri-cri que a cigarra faz nas noites de verão. Gosto de viajar de carro na estrada velha. Gosto do mar bravio e seu gosto. Gosto de olhos que se furtam. Gosto de anéis. Gosto dos corpos ao se encontrar sutis ou sedentos. Gosto dos suores da entrega e do banho depois. Gosto de vários copos de coca. Gosto de várias doses de Vodka. Gemidos. Minúcias. Poemas. Da música cantada especialmente para mim. Do domingo de tardezinha. Reggae. Havaianas. Samba com cerveja. Sapatilhas vermelhas. Calcinhas micro ou grandes calcinhas ou sem calcinhas. Deitar de qualquer jeito. Rede. Pés entrelaçados. Morangos. Sinais. Cicatrizes. Enlaces. Viagens. Possibilidades. Esperanças. Sentidos. Cores. Afagos. Carinhos. Amanhecer. Liberdade. Movimentos. Contar os segundos antes de agir por impulso. Amor. Preguiça. Ronronar dengo. Fazer manha. Beijar. Halls preto. Livros velhos, novos, clássicos, cults. Ventilador no pé molhado. Sonhar...
E o meu gostar define o que eu sou. Sou Angelita. Variante de Ângela. A mensageira.
Nome: Angelita Francis Lar: Cidade das Mangueiras, Pará, Brazil Sobre Ela: Ando perdida em meio à multidão de palavras que me cercam. Saiba mais sobre Ela