Neste retrato que você fez de mim os meus lábios inferiores endureceram meu perfil ou quem sabe por estar com a feição carregada de tanta dúvida, tanto apego. Mais perfeito ainda é a lembrança de não saber do início e muito menos do fim. Com você, meu brutamontes mais doce do mundo! Eu era inocente de novo e até dada a ilusões. Antes passava os dias tentando decifrar tua arquitetura perfeita e jovem, tascando beijos indecorosos e percebendo em cada gemido de amor o despertar do meu nome em tua boca: -‘Geninha’. Os nossos ‘Programas Normais’ passavam despercebidos ante ao sexo e eu só enxergava os teus olhos calmos, duros, doces e pueris, mas não enxergava a mim mesma. E quanto mais nervoso, e quanto mais calmo estavas, mais te sentia distante, radical numa rotatividade de sonhos mutáveis em um segundo ou dois. Aquelas noites de entregas discrepantes não me saem da cabeça, são conjugações ocultas ou equações matemáticas indecifráveis para alguém como eu, sempre presa às ânsias inacabadas. Depois de tua partida do meu ser passo o dia inteiro com as mãos postas no teclado do meu Notebook burguês, ora pregando as estratégias de marketing as quais me proponho, ora desatinando em prosa e poesia o amor entre as pessoas e sonhando com um para mim – verdadeiro, puro e apaixonado. Tento até hoje decifrar aquele olhar de desejo que despejastes em mim no último encontro, mas não era nada, então porque eu penso? Ele que deveria pensar! Aliás, não quer pensar não pense, não quer sair não saia... Nosso amor deixou um saldo no meu coração: a carteira de CARLTON que você esqueceu na bolsa; a camisinha aromática e os vinte reais para o Mini – Motel da área Comercial. Nunca mais, ouviu bem? Nunca mais verás o meu corpo se preparando para se entregar ao seu e nem verás o meu coração latejar de amor no mesmo compasso. Nunca mais! No teatro montado sob a escrivaninha há o copo de vinho; o cigarro que finjo fumar e os livros de poesias abertos como inspiração. Dois segundos depois vibra o celular na madeira velha e o clima de sofrimento poético se esvai. Derrubo o vinho e apago o cigarro. Do outro lado você fala: - ‘Genalva, vem me buscar que eu estou odiando’ Saí com a esperança sentada ao meu lado no banco do carona para ir ao seu encontro para salvar-te do mundo e me salvar também.
Marcadores: Texto classificado no Concurso Literário da Revista Piauí. |