Voltar a fumar. Voltar a ver as coisas como antes. A olhar para as pessoas e enxergar um pouco mais de satisfação, confiança. Voltar a sorrir como uma hiena. Por que não?! Voltar ao passado? Não sei, mas ele tem me perturbado. Ele lá diante de um mar lindo e absoluto, diante do pecado e da pureza, diante de tudo que ao mesmo tempo é belo e feio e mesmo assim teima em me chamar pra perto, mesmo eu não sabendo se quero ir, se quero recusar. Ainda bem que podemos voltar que podemos fazer de novo até conseguir. Doses diárias de rejeição para mim por enquanto, mas estou indo só de encontro ao caminho da verdade sem mãos entrelaçadas, sem companhia para um chope, sem meu romantismo habitual, sem falta de ar, apenas com o coração pulsante para o futuro, pensando em voltar, pensando em me encontrar. Deixar meus dramas, os mexicanos, um pouco de lado. “Vou ser feliz e já volto!”.
Talvez porque eu tenho lido crônicas demais dela. Talvez Martha porque é o que me impede de ligar, o que me impede de perder o controle, o que me apetece no momento. Nela eu encontro o apoio, o mesmo apoio para os alcoólatras, os abstinentes... Como um dia de cada vez e tem funcionado. Com ela eu tenho olhado mais para dentro, mas sem esquecer de olhar em volta. Estou vivendo esses trinta dias à La Martha Medeiros e não tenho vergonha de anunciar aos quatro ventos. È, talvez eu devesse consultar um profissional, mas ela tem me confortado, tem me dado o alento que talvez eu não encontrasse num divã. É de graça. É só abrir o livro Doidas e Santas (que é o que tenho aqui no momento) e ‘BAM!’ acabo me identificando com algum trecho, pegando alguns puxões de orelhas pelas coisas absurdas que eu maquino aqui. Ah! E ela ainda me indica livros e filmes maravilhosos. Tô amando descobrir Martha tem sido para mim além de conselheira, vidente, lâmpada mágica, cigarro, coca-cola, ou seja, quase necessária, mas mais do que isso tem sido inspiração para eu sentar o rabo na cadeira e escrever o meu sonho. Tendo dito isso, visto e vivido, não importa se tenho trinta, se fiquei solteira recentemente, se ainda o amo, se meu emprego não vai lá muito bem, se ando sem dinheiro há muito tempo, se sou amada por meus amigos, se minha infância foi perfeita, se perdi meu pai, minha vó, se minha relação com minha mãe é um desgaste só, o que importa mesmo é que tudo isso faz parte da minha busca pelo conhecimento intelectual para amadurecer. Afinal já dizia Sartre: “não importa o que fizeram com você, importa é o que você fez do que fizeram com você”. Meia volta volver, dois passos para frente e um para trás, tanto faz, apesar de Martha eu reconheço que devo voltar à minha natureza, voltar à minha fortaleza – aquela que Marcinha (te amo amiga!) falou que existe dentro de mim e que eu havia esquecido num canto. Voltar com coragem, mas cuidado, com as minhas qualidades e defeitos, pureza e pecado sempre na bagagem, sem me perder novamente. E reconhecer a verdade:
“Os homens passam, mas as mulheres não morrem”.
E ainda e simplesmente porque ele foi embora me amando ou não, e justamente por isso que eu devo seguir sozinha mesmo mergulhada na dor e sobreviver a isso e construir algo de novo, e principalmente sempre seguir acreditando no amor. E no ‘Poema Filmado’ eu vou levar comigo a poesia no olhar e a crença na existência de um “Amor pra vida toda e mais seis meses!”, como tio Alex disse.
Eu já chorei tanto que me deu sede de Coca-Cola. Sede exaustiva de tanto soluço, de tanta perda. Desespero pelo açúcar e o negro da Coca. O negro luto da Coca de uma vez por todas De todas as formas possíveis. Nunca mais há de ser! Negro como o vidro do teu perfume
encostado nas minhas coisas
me assombrando. Negro que amedronta Lágrima que liberta mais um pouco A cada gota escorrida Cada gota enxugada. Lágrima que vai e vem Como você e todos os outros Como os beijos no negrume da noite No negro dos olhos de quem encaro Na luz das estrelas que deslocam o negro Negro da Coca que me liberta aos poucos.
Nome: Angelita Francis Lar: Cidade das Mangueiras, Pará, Brazil Sobre Ela: Ando perdida em meio à multidão de palavras que me cercam. Saiba mais sobre Ela