
Revirou os papéis do passado e sorriu do que viveu, do que doeu e hoje não dói mais, mas doeu a partida, o fim, a inexatidão, as incertezas, o não saber-se amada ou amante, mas passou, virou e revirou no seu corpo, passou por suas mãos, depois largou. Sumiu e hoje riu, riu aberto e arfante, e foi lindo. Foi lindo viver a paixão que se foi, mais uma, não a primeira e muito menos a última. Sorriu daquela atmosfera de circo em que vivia. Sorriu da sedução que imbuía nos homens que eram a sua cara, das experiências furtivas e noturnas em que se abandonava e também dos deslizes e neuroses a que se prestava. E sorriu mais ainda por se saber jovem, bonita e saudável para tantas outras coisas mais, tantos sóis, tantas Ilhas Maravilhas, tantas noites de amor, tantas paixões testemunhadas pela lua e por Iemanjá, sua confidente. E pensou no nós, pensou tanto que desenhou no papel o rosto do amante e o seu rosto, e um coração, e encontrou ainda inspiração para escrever a história dos dois, da saga hollywoodiana sem pé nem cabeça que viveram, ela, uma ditadora e ele, o dono da Tim, de longe, de pedra. Voltou mais ainda às suas lembranças mais remotas e acumuladas em caixas lacradas, guardadas tão ao fundo, no seu eu, feito poeira e doeu só mais um pouquinho, mas buscou o hoje, os pensamentos de hoje, a história de hoje, a mulher de hoje e inventou o que é sempre melhor do que o nada que nem chega a ser nada porque pelo menos foi alguma coisa para o seu coração saltitante e o frio na barriga confirmou. Marcadores: Todos os direitos reservados Stockfotos |