
Caro vigilante interno,
Sei que habitas dentro de mim como as caixas que não abrimos mais e largamos nelas nossos anos mais sólidos. Lá, onde as despedidas foram orquestradas; onde cantarolei baixinho aquela canção que me traz lembranças, ora boas, ora ruins, e nas fotos amareladas pelo tempo de uma existência que ainda não sabe para o que veio... Sei também que você está aí a espreitar as minhas horas calmas e serenas para de repente aparecer numa ponta de ansiedade e medo que me inundam de defesa e ressentimento. Por que você é assim tão amargurado! Porque simplesmente não me deixa viver o que tenho vontade sem que brotem em minha consciência, as inconstâncias insuperáveis de se fazer existir? Que droga! Vá cuidar da sua vida um pouco e deixe a minha quieta para as experiências furtivas e alegres. Por que você sempre tem que estar comprometido com algo? Relaxa vai! Você parece uma bomba relógio pronta pra explodir aqui nas minhas entranhas e toda vez que me sinto segura, satisfeita, desejada você vem com aqueles sentimentos mesquinhos e inoportunos de desânimo e descrédito no ser humano. Ah! E outra coisa: quando você perceber que estou em momentos íntimos com alguém especial e que a qualquer momento eu vá entregar-me ao deleite, por favor, não seja inconveniente, suma pelas próximas 24 horas ok?! Assimile a idéia de que eu não te amo, não desejo a sua presença e nem estou a fim de divagações sobre o meu ‘eu’. Agradeço se você levar em consideração essas palavras e ficar aí quietinho com os seus ‘ais’ que nada acrescentam à minha vida. |
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