
Qual é o papo? O que está acontecendo com o meu veículo estelar. Ele ta morrendo? É, porque ele não tem me levado pra canto nenhum, nem me iluminado o caminho nesse espaço sideral em que me perco a cada dia. Ele tem feito uns barulhos ensurdecedores nas horas mais impróprias, quando estou em companhia de alguém e não me deixa falar, não me deixa escutar os meus próprios pensamentos. Eu tento não perder a calma, mas minha cabeça reage aos barulhos que ele emite e eu tenho tanto a dizer, tanto a pedir que ele pegue que não me deixe na mão, não naquele momento, não quando tudo que eu quero é chegar ao meu destino: as estrelas – sim, aquelas que me cegavam de tanta luz e beleza, que me chamavam pra perto e que me confortavam só de olhar pra elas. Tá difícil essa relação de homem-máquina. Me sinto largada quando mais preciso, meu coração palpita quando o vejo e não sei como pedir que ele siga o mesmo caminho que eu, um caminho mais pacífico entre nós e mais seguro, onde eu possa ser quem eu sou de verdade onde eu possa sonhar e acreditar no sonho pra poder realizar, poder ser feliz. Não quero esse sentimento de perda rondando a minha cabeça e nem quero me desfazer do meu veículo, apesar de rebelde e avariado. Eu o quero como antes: novo, possante, seguro e bonito que me fazia exibí-lo para todos e de seguir nessa viagem juntos, um confiando no outro. Espero que esses dias de nuvem passem e as estrelas voltem a brilhar pra abastecer de esperança a minha máquina, o meu coração e enquanto os dias claros e limpos não chegam, tudo o que quero agora é um abraço desconjuntado de um amigo de longe que me faz sorrir, mesmo triste e me faz lembrar do cheiro de sapotilha da minha infância, há tantos verões atrás. |