Tenho andado com o coração preenchido, de tanto sentir, de tanto amar, não sei quantos, não sei quem, e de tanto e de tanto, já tem vida própria. Vida que não é vida só de batida, mas vida de batuque, daquele ensurdecedor, de samba, do Pelourinho ou de um tambor da África, que faz minha razão revirar de lado e seguir para um universo paralelo qualquer ou talvez Neverland. Não mando mais no meu coração, e pior, ele não tem mais identidade, naturalidade, não tem mais horário, não tem mais compromisso com o trabalho, anda vadio por aí, embebido em emoções que não sei de onde vem... É julho, e isso explica tudo: tá de férias de mim, vagando por aí, em busca de aventura. Meu coração é protagonista de filme europeu, daqueles que ajudam todas as pessoas, um herói, mas poderia ser heroína, poderia ser Amelie Poulan, que com olhos grandes e cores vivas distribuía mistério e amor sem pedir nada em troca, escondida por uma penumbra de medo. Meu coração é um bêbado romântico, que faz samba e amor até mais tarde, tem muito sono de manhã e não está nem aí pra correria da cidade. Meu coração é um sincero abusado, que não é dado a convenções, e mesmo num evento lotado consegue conquistar a donzela e deflagrar o vilão. Meu coração é uma prostituta, que pode ser santa, mas também vadia, que pode estar certa e também errada, que pode carregar a beleza do mundo e a podridão dos becos. Meu coração é um moleque travesso, jogando pedra na multidão, subindo muro, escalando janelas, desbravando a vida com paixão. Meu coração é um beijo roubado, daqueles afoitos disparados numa noite envolta em álcool, por um amor não correspondido ou um desejo descabido. Meu coração é o sexo na rede, sem vergonha, sem vestes, sem equilíbrio, um carro desgovernado na contramão. Meu coração é um livro amado, amarelecido de tanto lido, de tanto aberto e de tanto fechado, o levamos conosco dentro do sonho de uma viagem que não acaba nunca. Meu coração toca ‘Canteiros’ de olhos fechados de saudade, porque mesmo ele tendo muita coisa e sendo feliz, ele acha bonito ser triste. Meu coração é uma ilha que não está há centenas de milhas daqui, e que está alcance, não só das mãos, dos pés, mas de toda uma infância cheias de lembranças e experiências e mais alguns playboys do Sal, patricinhas de tamanco na praia, estrela cadente, sol a pino e muita magia. Meu coração é um mochileiro cheio de ideais vagando por lugares desconhecidos, descobrindo as particularidades do mundo e das pessoas, para ser descoberto também. Meu coração não me pertence mais, porque meu coração é teu. Se você encontrá-lo andando por aí numa noite estrelada ou num dia de sol, manda ele voltar pra mim. Marcadores: Baseado num texto de Caio F. Abreu |
é ... eu percebi ... o teu ficou liiindo, lindo!!