Angelita Francis: Garota Cor de Fogo.

Sobre o que aflora.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Para Mário.
Pai, desculpa por vir só agora, mas eu vim mais tarde porque eu andava evitando as lágrimas, sim, aquelas que você disse um dia para deixar que corressem porque a dor passa mais rápido e as alegrias brilham como diamantes nos olhos. Nunca concordei com você sobre isso, sempre tentei engasgar algo que me revelasse tanto. E eu não podia né?! Não podia por causa do nome, por causa da faceta de super herói, por causa de toda uma infância com gosto de fruta e cheiro de sangue, e não posso ainda, mesmo agora te escrevendo liberar toda a saudade e toda a ausência que dói, lateja, e se esconde vez ou outra, mas isso se desencadeou em mim de tal maneira esta semana que a única forma de não explodir é escrevendo pra você, pra tornar a perda real, a saudade bonita, e me expor sobremaneira, com as mesmas lágrimas que eu sempre tentei conter, em vão.

Porque pai aquela nossa conversa séria antes da tua partida me fez saber quem eu sou e de onde eu vim e porque tudo mudou, afastou e sangrou desembocando na minha rebeldia e evidenciando essa minha alma inquieta até hoje, a diferença é que eu tenho trinta, mas toda aquela energia, toda aquela eventual necessidade de estar em contato, de estar alerta continuam aqui, a diferença é que agora elas teem seu tempo e lugar. E como eu penso! Tanta caraminhola na cabeça, tanto frio na pança, tanta coisa bonita eu vejo, tanta alegria eu lembro, como o ‘ajivú’¹ – o nosso possante azul que eu arrastava pelas ruas pra lá e pra cá, na tranqüilidade de me sentir segura ao seu lado e na longevidade da tua confiança em mim. Ê vida boa aquela! Vida de mato, de chuva de ipê, de banho de igarapé de manhãzinha, de cavalgada diária. Saudade. Saudade de você com seus cabelos de anéis castanhos dourados, do óculos remendado, daquela camiseta do Bob² que parecia andar sozinha de tão surrada, de você no seu melhor e pior estado.

Me desculpa se eu segui a minha vida não olhando mais pra trás, para aquele lugar onde vivias, onde vivíamos, mas é que eu não posso me ver lá sem você, não posso me dar ao luxo de tanta carência, já é difícil lidar com ela nos dias urbanos, imagina nessa atmosfera bucólica de Tracuateua!³ Desculpa se eu deixei tanto pra trás, até o que me dizia respeito, o que era meu de direito, mas é que não faz sentido, não tem valor, pois o valor que eu dava para as coisas era quando você estava em volta delas, e hoje eu sou meio órfã sabe! Órfã daquele amor e veneração que tinhas por mim.

Pai preocupa não! Não parece agora, mas eu estou bem, to seguindo o meu caminho com você no coração, na cabeça, nos livros que eram teus e que eu tomei pra mim, porque te encontro nas palavras, assim como eu faço agora. Só é saudade. Deixa quieto que passa!

Bjs da sua e sempre filhota.

P.S.: O vídeo em anexo, é da música espelho, composta por João Nogueira para seu pai, e quando de seu repentino falecimento, seu filho Diogo Nogueira, ainda anônimo, e vários artistas, cumpriram a agenda de shows que havia ficado em aberto, e é claro que ele cantou esta música em homenagem ao pai falecido. (Fonte: Blog Uma Música por Dia).

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postado por Angelita Francis @ 07:50  
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Nome: Angelita Francis
Lar: Cidade das Mangueiras, Pará, Brazil
Sobre Ela: Ando perdida em meio à multidão de palavras que me cercam.
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