
Zeca, lembra quando eu te falei daquele sonho bonito em que aparecias enamorado e de mãos dadas? Pois é, eu acho que era reflexo do que eu quero, do que eu sou. Eu te disse também que pediria a Iemanjá que assossegasse o teu, o meu coração e assim o fiz, mas eu pedi mais, eu pedi amor, é porque guardei só pra mim, com medo que falhasse, com medo que esvaísse ou que passasse sem muita importância a pessoa bonita que eu conheci, então eu pedi mais, porque eu quero tempo com ela sabe!
Zeca, tu sabes também o quanto é ruim pra gente, pra palavra, não sentir nada. Sabes mais ainda da minha natureza de apaixonada incorrigível, sabes da minha história, e todas aquelas mudanças de valores, de humores, de sentimentos e de entendimento do que o amor representa pra mim, muito além da paixão, sempre amando eu sorvo essa substância que ora alimenta, ora inane.
Sabe Zeca, hoje tenho medo de acreditar que o amor está escasso e que custa caro, porque mesmo amando ou sendo amada, anda difícil viver isso. E cada olhar trocado, cada boca e corpo que se abandonam para o beijo, me embriagam tanto que me perco como Alice, nas maravilhas de qualquer sentimento que não o é e nem será. Por que essa falta?
Que falta é essa Zeca que me acorda no meio da noite com suores noturnos e boca seca? Que me faz perder os sentidos ao olhar para o nada e ao mesmo tempo me faz viver disposta a imaginar as coisas pensando no tudo? Será amor que me falta? Será tempo de amor, paciência de amor que me falta? Amar diferente de paixão ou evoluir paixão para diferenciar o amor? Zeca me diz o que é isso que anda solto em mim porque o turbilhão de palavras voltou e eu tô cansada de maquinar tanta coisa.
Eu vivi tanta coisa de sonho, devia te contar do vigilante interno, freio ABS que tem me mandado ter cautela com os caminhos de Alice que se apoderaram de mim tantas vezes durante esses dias felizes, mas decidi não dar mole, mandar pastar, mas aí eu li um texto do Veríssimo – “Para Se Roubar Um Coração”, e entendi que se o amor tivesse outro nome, ele seria ‘tempo’, então amanhecida disso tudo, das caraminholas, dos sentimentos e do turbilhão decidi encontrar um pra mim também, o mesmo que tanto falas, do teu tempo, do tempo de sentir, do tempo de amar. Vou tentar amar no tempo do amor Zeca. Vou ler um conto, atravessar mil pontos, nadar mil águas, meditar no azul do céu, bater altos papos com Iemanjá, caçar músicas, inventar palavras só pra encontrar.
Sei que não é bem o caso de tristeza ou alegria (pelo menos não assim tão diretamente), mas esse trecho do livro "O Profeta", de Kahlil Gibran, fala exatamente algo que queria te falar:
Então uma mulher disse: "Fala-nos da Alegria e da Tristeza."
E ele respondeu:
(omissis)
Alguns dentre vós dizeis: "A alegria é maior que a tristeza", e outros dizem: "Não, a tristeza é maior."
Porém, eu vos digo que elas são inseparáveis.
Vêm sempre juntas, e, quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-
vos de que a outra dorme em vossa cama.
Em verdade, vós estais suspensos como os pratos de uma balança entre
vossa tristeza e vossa alegria.
É somente quando estais vazios que estais equilibrados.
Quando o guarda do tesouro vos suspende para pesar seu ouro e sua
prata, então deve a vossa alegria ou a vossa tristeza subir ou descer."
Te mandei o capítulo todo por e-mail. Beijos.