Angelita Francis: Garota Cor de Fogo.

Caro (ex) amor da minha vida,

De todos os dias que seguiram só guardei três gostos na boca – de cerveja de cigarro e de lágrima Tanto doeu tanto sofri mas eu sobrevivi passei a acompanhar o movimento louco do mundo sem esperar que alguma coisa acontecesse nos próximos minutos porque realmente aconteceria era só não esperar nem desesperar e elas vieram e aconteceram e pintaram e bordaram no meu corpo que me vi em mil possibilidades além de você.
Desculpa as palavras cuspidas na tua cara mas você sacaneou feio comigo sempre te dei liberdade para dizer as coisas que pensavas/sentias mas você teimou em ser um Filho-da-P comigo e não pude me conter mas eu não tenho culpa não fui eu quem fez as coisas ficarem assim desse jeito nem você a culpa é apenas nossa e me sabendo essa romântica que quando sozinha na minha cama olhando a chuva da janela lá no fundo eu ainda penso que tudo podia voltar a ser como antes mesmo sendo fantasias de uma mente perturbada porque pensando nisso eu lembro de quando te vi pela primeira vez naquela ainda deserta ‘Praia Branca’ com seus longos cabelos seu tórax do tamanho do mundo e seus olhos assustados de menino e te vi assim como se não fosse ver nunca mais e talvez tivesse sido melhor que eu não tivesse visto nunca mas acabei te vendo e quando eu te via nasciam bolas vermelhas nas minhas faces impossíveis de serem ignoradas e pensando nisso é que de tudo isso me ficaram boas lembranças do menino que foste e da menina que eu fui e do homem que te tornaste e da mulher que me tornei e vem uma vontade de cuidar melhor de mim de ser melhor pra mim e para os outros de não morrer de não sufocar de continuar sentindo esse encantamento por outra pessoa que o mundo trará na verdade já trouxe e então não repetir nenhum comportamento ser outra.
Você tinha razão ao me perguntar se eu ainda te amava é porque de todas as nossas fases as nossas crises hoje percebo friamente que amava alguém que não existia mais alguém que se foi com o fim da adolescência-início-da-vida-adulta e por mais escroto que possa parecer você estava aqui dentro de mim e ficou por muito tempo sem eu lhe enxergar direito então se você não é mais quem eu amava a tanto tempo quem é você agora? Tudo bem você não precisa responder é uma pergunta para responderes para ti mesmo isso bem aí dentro do peito.
Algumas descobertas são importantes principalmente esse charme de mulher-quase-trinta-que-já-foi-marcada-por-um-grande-amor-perdido e já chega dessa coisa de amar errado e como as coisas vão ficar? Não sei estou deixando tudo acontecer com o coração em saltos e o estômago em brasa mas estou pronta pro que der e vier mesmo sendo essa romântica que você sabe que eu sou mesmo acreditando no ser humano por mais absurdo que pareça e ao mesmo tempo condenando essa sociedade fajuta deste século XXI que ninguém quer ninguém não se ama porque amar é careta é utopia coisa-de-mulherzinha-neurótica.
É por isso que me despeço agora mais refeita do que antes e te digo adeus de forma digna por tudo o que fomos um dia juntos.
Até breve adeus inté.

Marcadores: Angelita, Carta integrante do Romance Ana, Marilyn